Ser campeão é padecer no paraíso. 
É uma coisa inexplicável - como 
os regulamentos dos campeonatos, 
por exemplo.
É sofrer desde o pontapé inicial
da primeira partida da primeira
fase do primeiro turno. É sofrer 
desde o pontapé inicial daquele
beque desgraçado e perna-de-pau
na santa canela do nosso atacante.
É vibrar com o nosso zagueirão
matando a jogada (e o jogadorzinho
petulante que se atreveu a passar
do nosso meio-campo) com a classe
que só os nossos zagueirões têm.

Ser campeão é ter mil olhos para
enxergar o pênalti claríssimo
que só o juiz não viu a favor dos
nossos. É ter mil argumentos para
provar que o juiz estava certo quando
não marcou o pênalti a favor deles.

É interpretar a lei do impedimento

de acordo com o time que está 
atacando: se era o nosso, 
não estava; se era o deles, 
banheira sem contestação.

É aguentar uma eventual derrota
com toda dignidade, xingando pouco.
É aguentar duas derrotas seguidas 
com a dignidade possível. É não  
aguentar três derrotas consecutivas
e exigir a cabeça do técnico. É 
vibrar e torcer até em videoteipe.

É chegar no fim do campeonato sem
saber se foi mais gostoso ganhar
o título ou ter cozinhado o Galo,
depenado o Urubu, matado o Porco...

Ser campeão, por isso mesmo, é 
motivo para comemorar o mais
intensamente possível. Porque -
cuidado ! - no ano que vem pode
ter o troco.